imagem: Jia Lu, Illuminated

"EM CADA CORAÇÃO HÁ UMA JANELA PARA OUTROS CORAÇÕES.ELES NÃO ESTÃO SEPARADOS,COMO DOIS CORPOS;MAS,ASSIM COMO DUAS LÂMPADAS QUE NÃO ESTÃO JUNTAS,SUA LUZ SE UNE NUM SÓ FEIXE."

(Jalaluddin Rumi)

A MULHER DESPERTADA PARA SUA DEUSA INTERIOR,CAMINHA SERENAMENTE ENTRE A DOR E AS VERDADES DA ALMA,CONSCIENTE DA META ESTABELECIDA E DA PLENITUDE A SER ALCANÇADA.

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sábado, 9 de outubro de 2010

O ESPELHO

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Eu quis mudar o mundo, então levantei-me de manhã e olhei para o espelho. Aquele que me olhava de volta disse, “Não resta muito tempo. A terra está sofrida com dor. As crianças estão a morrer de fome. As nações permanecem divididas pela desconfiança e ódio. Em toda parte o ar e a água foram sujos quase além da ajuda. Faz alguma coisa!”.

Aquele homem no espelho sentiu-se muito zangado e desesperado. Tudo pareceu uma desordem, uma tragédia, um desastre. Percebi que ele devia estar certo. Eu também não me senti terrível sobre estas coisas, tal como ele? O planeta é usado e jogado fora. Imaginar a vida terrestre apenas daqui a uma geração fez-me sentir pânico.

Não foi difícil encontrar as boas pessoas que queriam resolver os problemas da terra. Enquanto ouvia suas soluções, pensei, “Há muita boa vontade aqui, tanta quanta preocupação”. À noite antes de ir para a cama, aquele homem no espelho olhou de volta para mim seriamente, “Agora vamos chegar a algum lugar”, ele declarou. “Se todos fizerem sua parte”.


Mas não foram todos que fizeram sua parte. Alguns fizeram, mas pararam a marcha. Estavam a dor, a fome, o ódio, e a poluição quase a serem resolvidos? Desejar não basta - eu sabia. Quando eu acordei na manhã seguinte, aquele homem no espelho estava confuso. “Talvez não haja esperança”, ele sussurrou. Então um olhar sonso apareceu nos seus olhos e ele encolheu os ombros. “Mas tu e eu sobreviveremos. Pelo menos nós fazemos tudo certo”.

Senti-me estranho quando ele disse aquilo. Havia algo muito errado aqui. Uma fraca suspeita cresceu em mim, uma que nunca tinha sido percebida tão claramente antes. E se aquele homem no espelho não sou eu? Ele sente-se separado. Ele vê problemas “lá fora” a serem resolvidos. Talvez eles serão, talvez eles não serão. Ele manter-se-á assim. Mas eu não sinto daquela maneira - aqueles problemas não estão “lá fora”, não realmente. Eu sinto-os dentro de mim. Uma criança a chorar na Etiópia, uma gaivota marinha a lutar pateticamente num derramamento do óleo, um gorila da montanha a ser impiedosamente caçado, um jovem soldado adolescente a tremer com terror quando ouve os aviões decolarem: Não está tudo isto a acontecer em mim quando eu vejo e ouço a respeito delas?

Na próxima vez que eu olhei no espelho, aquele homem que me olhava de volta começava a desvanecer. Era somente uma imagem depois de tudo. Mostrou-me uma pessoa solitária fechada num pacote bem arrumado de pele e ossos. “Eu terei pensado alguma vez que tu eras eu?” Eu perguntei. Eu não sou assim dividido e com medo. A dor da vida toca-me mas a alegria da vida é muito mais forte. E, sozinha, se curará. A vida é a cura da vida e tudo o que posso fazer pela terra é ser sua amorosa criança.

Aquele homem no espelho contraiu-se, contorceu-se. Ele não tinha pensado tanto sobre o amor. Ver “problemas” era muito mais fácil, porque o amor significa completa auto-honestidade. Ai!

“Oh, amigo”, eu sussurrei, “achas que alguma coisa pode resolver problemas se não houver amor?”. Aquele homem no espelho não estava seguro. Estar sozinho por tanto tempo, sem confiar nos outros e a ser desconfiado por outros, fez com que se separasse da realidade da vida. “O amor é mais real do que a dor?” ele perguntou.

“Eu não posso prometer que seja... Mas podia ser. Vamos descobrir”, eu disse. Toquei o espelho com um sorriso aberto. “Não vamos ficar sozinhos outra vez. Serás meu parceiro? Ouço uma dança a começar. Vem”. Aquele homem no espelho sorriu timidamente. Ele estava a perceber que poderíamos ser os melhores amigos. Nós poderíamos ser mais calmos, mais amorosos, mais honestos um com o outro a cada dia.


Aquilo mudaria o mundo? Eu penso que mudará, porque a Mãe Terra quer que sejamos felizes e a amemos enquanto cuidamos das suas necessidades. Ela necessita de pessoas destemidas a seu lado, cuja coragem vem de ser parte dela, como um bebê que é valente o suficiente para andar porque a Mãe estende os seus braços para agarrá-lo. Quando aquele homem no espelho está cheio de amor para mim e para ele, não há espaço algum para o medo. Quando estávamos com medo e em pânico, paramos de amar esta vida nossa e esta terra. Dividimo-nos. No entanto, como alguém pode apressar-se para ajudar a terra se se sente dividido?


Talvez a terra esteja a dizer o que ela quer e, ao não ouvir, nós recorremos ao nosso próprio medo e pânico.
Uma coisa eu sei: nunca me sinto sozinho quando sou a criança da terra. Eu não tenho que me agarrar à minha sobrevivência pessoal enquanto perceba, dia após dia, que toda a vida está em mim. As crianças e a sua dor; as crianças e a sua alegria. A ondulação do oceano sob o sol; o choro do oceano com óleo preto. Os animais caçados no medo; os animais explodindo com a mera alegria de estarem vivos.


Este sentido “do mundo em mim” é como eu sempre me quero sentir. Aquele homem no espelho tem suas dúvidas às vezes. Então eu sou terno com ele. Todas as manhãs toco o espelho e sussurro, “Oh, amigo, eu ouço uma dança. Serás meu parceiro? Vem”.


"That One In The Mirror"
poema de Michael Jackson
livro "Dancing The Dream - Poems And Reflections"
1992


http://busca-interior.blogspot.com/2010/09/aquele-homem-no-espelho-mj.html

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