imagem: Jia Lu, Illuminated

"EM CADA CORAÇÃO HÁ UMA JANELA PARA OUTROS CORAÇÕES.ELES NÃO ESTÃO SEPARADOS,COMO DOIS CORPOS;MAS,ASSIM COMO DUAS LÂMPADAS QUE NÃO ESTÃO JUNTAS,SUA LUZ SE UNE NUM SÓ FEIXE."

(Jalaluddin Rumi)

A MULHER DESPERTADA PARA SUA DEUSA INTERIOR,CAMINHA SERENAMENTE ENTRE A DOR E AS VERDADES DA ALMA,CONSCIENTE DA META ESTABELECIDA E DA PLENITUDE A SER ALCANÇADA.

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terça-feira, 25 de maio de 2010

A SERPENTE CÓSMICA

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Como acompanhantes de todas as grandes deusas, encontramos os animais, que se postavam ao lado da Grande Mãe de forma tão proeminente que são tidos como sua epifania: a simples presença do animal evoca a presença da deusa.

Estes animais, longe de serem totens ou divindades individuais de crenças politeísticas, corporificam a própria divindade, definindo sua personalidade e exemplificando seu poder.

Por seu movimento e renovação cíclica, a serpente foi o animal mais freqüentemente associado com o fluir do sangue menstrual. Pelo hábito de recolher-se nas reentrâncias da terra para hibernar, bem como se desfazer anualmente de sua pele, como um recém-nascido se desfaz da placenta, a serpente é considerada símbolo de continuidade da vida e da conexão com o mundo profundo.

Um símbolo universal altamente complexo, encontramos a serpente na origem de muitas mitologias. Como emblema das divindades auto-criadas, representa a fonte de todas as potencialidade, tanto materiais quanto espirituais. E neste sentido também representa a primordial natureza instintiva humana, a força de vida potencial e animadora que surge das profundezas do ser.

Como uma das muitas epifanias da deusa, quer represente o sol ou a lua, a vida ou a morte, a sabedoria ou a paixão cega, o reino espiritual ou o reino físico, nos relatos cosmogônicos este animal primordial e misterioso habita o oceano primordial, do qual tudo emerge, ao qual tudo retorna.

Como uroboros, a serpente que morde seu rabo, simboliza o caráter cíclico de todo ser, o fim que se une ao começo. Neste sentido, ainda faz parte de uma visão integrada da vida humana. Sua associação com vida, fertilidade, rejuvenescimento e regeneração faz dela um símbolo de imortalidade, razão pela qual é sempre encontrada junto à Árvore da Vida, possibilitando o acesso a ela.

Nas diferentes partes da África, a força primordial da criação é concebida como a "serpente cósmica", uma das criaturas mais amplamente encontradas nas diversas mitologias. No começo, o poder serpentino se enrolou em torno da terra disforme, mantendo-a coesa, e ainda tem essa função. Ela se move constantemente, seu fluxo espiral pondo os corpos celestes em movimento. Seu poder criativo está intimamente associado com às águas e o arco-íris.

Na cosmologia andina, as serpentes representam o mundo profundo (ukupacha). Entre os incas do Peru, todas as coisas retornam ao útero da Mãe Terra para serem transformadas. Entre os astecas, a mãe das divindades era Coatlicue, que dá a vida e a toma na morte. Nos mais antigos dias dos povos do México, a mãe Coatlicue escondia-se no nebuloso topo da montanha no país de Aztlan, enquanto seus servos-serpente viviam dentro das cavernas da montanha. Desta casa secreta ela deu nascimento à luz, ao sol e a todas as estrelas no céu

Representando bem mais do que fertilidade sexual, as serpentes hibernam no inverno e reaparecem na primavera. Por isso, eram consideradas pelos egípcios como a vida da terra. Nos livros dos mortos egípcios, é dito que ela oscila entre amar e odiar os deuses. Por este seu aspecto duplo, era usada para representar poderes sagrados benéficos e hostis. Quando benéfica, estava protetoramente ereta, como na fronte dos faraós. Quando hostil, era a serpente Apófis, que diariamente ameaçava o sol em sua trajetória noturna.

As divindades-cobra eram sempre femininas. De registros do antigo Egito, sabemos que a imagem da cobra era o sinal hieroglífico para a palavra "deusa" e que a cobra era conhecida como "o Olho", uzait, um símbolo de insight místico e sabedoria.

Na tradição aborígine australiana, o poder do sangue menstrual é designado e identificado mitologicamente como uma grande serpente. Esta força semelhante ao arco-íris, de cor vermelho-sangue, é entendida como característicamente maternal.

Na mitologia da terra de Arnhem, no centro-norte da Austrália, "tornar-se um arco-íris" é um encanto menstrual. A serpente representa, simbolicamente, o poder criador universal manifestado pelo sangrar da mulher. Descrita como amante da água, detectora de odores, envolvendo as mulheres e, acima de tudo, amante de sangue, a serpente "não é outra coisa que o poder simbólico da ‘inundação’ ou do ‘fluxo’ das mulheres".


(Texto extraído do livro Rubra Força – Fluxos do poder feminino – de Monika von Koss)

http://clafilhasdalua.blogspot.com/2008/11/serpente-csmica.html

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