imagem: Jia Lu, Illuminated

"EM CADA CORAÇÃO HÁ UMA JANELA PARA OUTROS CORAÇÕES.ELES NÃO ESTÃO SEPARADOS,COMO DOIS CORPOS;MAS,ASSIM COMO DUAS LÂMPADAS QUE NÃO ESTÃO JUNTAS,SUA LUZ SE UNE NUM SÓ FEIXE."

(Jalaluddin Rumi)

A MULHER DESPERTADA PARA SUA DEUSA INTERIOR,CAMINHA SERENAMENTE ENTRE A DOR E AS VERDADES DA ALMA,CONSCIENTE DA META ESTABELECIDA E DA PLENITUDE A SER ALCANÇADA.

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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

MITO DE EROS E PSIQUÊ E LIÇÕES DO FEMININO

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(...) “E Afrodite manda que Psiquê encha uma taça de cristal com água do Estige, um rio que nasce no alto de uma montanha, desaparece sob a terra e retorna à montanha. É um rio circular que depois de passar pelas regiões abissais do inferno, sempre retorna às suas origens. Por ser guardado por monstros perigosos, não há como aproximar-se dele o suficiente para recolher uma taça de água. Fiel à sua forma de reagir, Psiquê de novo se desestrutura, mas desta vez fica entorpecida pela certeza da derrota, a tal ponto que nem chorar ela consegue. È então que aparece a ÁGUIA de Zeus. O deus pede à águia que vá ao encontro de Psique. Ao chegar perto da jovem aflita, a águia pega a taça de cristal, voa até o centro do rio perigoso e de lá traz o cálice cheio para Psiquê, que assim vê completada a sua tarefa.

Esse é o rio da vida, com seus altos e baixos, do alto da montanha, às profundezas da terra. A correnteza é veloz e traiçoeira; suas margens, escorregadias e íngremes. Quem se aproximar muito, facilmente poderá ser arrastado pra depois afogar-se ou ser esmagado contra as rochas que há no seu leito.

Esta tarefa nos mostra como a feminilidade deve relacionar-se com as infinitas possibilidades da vida. Psique só poderá encher uma taça de água de cada vez. A forma feminina de agir é fazer uma coisa por vez, e fazê-la mito bem feita. Não lhe é negada uma segunda, uma terceira, uma décima vez; mas é só uma taça por vez, com ordenação.

O aspecto feminino da psique humana tem sido descrito por alguns psicólogos, como percepção difusa. A natureza feminina é inundada pelas infinitas possibilidades que a vida proporciona. E vê-se atirada a todas elas quase que de pronto.

E a grande dificuldade é que ninguém pode ser tudo, ao mesmo tempo e imediatamente. Parte das possibilidades que nos são dadas, contrapõem-se, portanto temos de escolher. Como a Águia, que tem visão panorâmica, temos de focalizar um ponto no rio, mergulhar, e trazer uma, só uma, taça de água.

Existe um conceito popular afirmando que se pouco já é bom, mais é melhor. A propaganda, por outro lado, nos diz para agarrar todo o sabor que se possa arrancar da vida. Isso não funciona. Significa que nunca se está satisfeito, significa que mesmo que se esteja no auge de uma experiência muito boa, já se está de olho em outras possibilidades. Que nunca se está contente, por estar sempre atrás de algo maior, ou melhor.

Por outro lado, o mito nos mostra que já um pouco de algo bom, desde que sentido com real consciência, nos será suficiente. É possível ver o mundo num grão de areia. Poderemos concentrar-nos em um aspecto da vida, ou em uma experiência, absorvê-la e esgotá-la. Só aí é que poderemos partir, com ordenação, em direção a qualquer outra experiência que possa aparecer.

A taça de cristal é o que contém a água; e cristal, como se sabe, é muito delicado e muito frágil. O ego humano pode ser comparado à taça de cristal. É o continente para parte da imensidão do rio da vida. Se o “ego-continente”, tal como a taça, não se relacionar cuidadosamente com o belo, mas traiçoeiro rio, poderá se estilhaçar. É necessário uma “natureza-águia” para ver claramente o lugar onde mergulhar no rio. Talvez também o ego que esteja tentando trazer para a consciência uma parte das profundezas inconscientes, possa ser aconselhado a retirar somente um cálice por vez, para não se ver esmagado, pois como ego-continente, pode ser estilhaçado.

Um indivíduo despreparado que se aproxime do rio da vida por terra, de um dos pontos das vastíssimas margens, pode, pelo seu ponto de vista, olhar para a estonteante confusão e sentir que não há como escolher. Se chegar ao rio por outra margem, num outro ponto, poderá achar a água estagnada, aparentemente sem movimento ou vida e não ter expectativa de mudança. Quem se aproximar desse rio vindo de sua margem particular, de um ponto quase sem perspectiva, por vezes vai precisar do auxílio de sua natureza Águia para ter seu campo de visão ampliado e assim poder ver uma parte maior do rio, com seus meandros, suas curvas, suas mudanças de curso. Assim, de um ponto de vista diferente, poderá vislumbrar outras possibilidades. Precisamos de nossa “natureza-águia” principalmente quando parece estarmos presas numa curva sinistra do rio.

O conselho dado por essa passagem do mito nos é particularmente útil nos dias atuais. Quase todas as mulheres que conheço, atiraram-se ao rio com sofreguidão, e se sentiram oprimidas. Quase todas as mulheres que conheço estão sempre muito ocupadas, fazendo isto ou aquilo, estudando, comprometidas com várias coisas, trabalhando exaustivamente em algum projeto, correndo de um lado para outro até ficarem em pedaços.

É preciso acalmar-se, saber lidar ordenadamente com as infinitas possibilidades que a vida proporciona.”

Fazer uma coisa: pegar uma taça de cristal por vez, concentrar-se nela e faze-la bem feita. Aí, então, poderá dar um novo passo, no sentido de realizar outras coisas."

Johnson, Robert. SHE. Editora Mercuryo

Fonte:http://femininoessencial.blogspot.com/2009/11/mitos-de-eros-e-psique-e-licoes-do.html

Imagem:Elisabetta Trevisan

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