imagem: Jia Lu, Illuminated

"EM CADA CORAÇÃO HÁ UMA JANELA PARA OUTROS CORAÇÕES.ELES NÃO ESTÃO SEPARADOS,COMO DOIS CORPOS;MAS,ASSIM COMO DUAS LÂMPADAS QUE NÃO ESTÃO JUNTAS,SUA LUZ SE UNE NUM SÓ FEIXE."

(Jalaluddin Rumi)

A MULHER DESPERTADA PARA SUA DEUSA INTERIOR,CAMINHA SERENAMENTE ENTRE A DOR E AS VERDADES DA ALMA,CONSCIENTE DA META ESTABELECIDA E DA PLENITUDE A SER ALCANÇADA.

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quarta-feira, 6 de maio de 2009

A ESPIRITUALIDADE FEMINISTA

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A espiritualidade feminista começou do movimento feminista dos anos 70 e daqueles que dentro deste movimento estavam insatisfeitos com as idéias e a religião patriarcais. Mulheres estão começando a criar a sua própria religião. "As mulheres hoje estão descobrindo que a espiritualidade é autêntica quando é intrinsicamente subjetiva, quando é trazida para fora, penadamente do útero da sua própria experiência" (Kolbenschlag, p.160). As mulheres estão começando a olhar as suas próprias experiências e sensações (intuição) e a confiar nelas. É importante para as mulheres validar e confiar nas suas experiências e sensações pessoais antes de confiar em si mesmas. A espiritualidade que vem de dentro está tomando o lugar do dogma que vem de fora. Algumas mulheres que estão explorando a sua espiritualidade participaram de grupos de expansão da consciência aonde elas pela primeira vez foram permitidas a examinar e validar as suas sensações e experiências. Elas começaram a olhar para as idéias defeituosas do patriarcado (tais como a divisão entre o espírito e o corpo, a racionalidade linerar e o "poder sobre") e a achar alternativas a esta idéias (vidas políticas e espirituais interdependentes, pensamento [intuitivo] não-linear e poder-de-dentro).


Algumas revistas feministas começaram a olhar para a idéia de religar espiritualidade e política. Country Woman dedicou uma edição (Abril de 1974) ao assunto:


Para mulheres "políticas", "espiritual" significa instituições e filosofias que têm imobilizado mudanças práticas e canalizados as energias das mulheres para servir a outros em seu próprio detrimento. Para mulheres "espirituais", "política" significa instituições e filosofias que negam a unidade das pessoas e que têm canalizado a criatividade das mulheres para destrui-las e fazê-las lutar umas contra as outras... Desde que as mulheres começaram a notar as diferentes partes das suas experiências e a categorizá-las em termos usados pela cultura patriarcal, elas começaram a suspeitar umas das outras. (Adler, p.1985).


Mas muitas pessoas desejam e gravitam em torno da espiritualidade e as feministas não são exceção. As mulheres que precisam de uma espiritualidade feminista começaram a olhar para as religiões e arquétipos da Deusa. É claro, elas acharam a bruxaria. Como um das únicas religiões que dão um papel igual, se não superior, a bruxaria logo foi reinvidicada pelas feministas como sua propriedade.


Em 1968, WITCH, "um grupo de mulheres que estão engajadas em ações de protesto políticas e surrealistas" (Adler, p.179), distribuíram panfletos que usavam o arquétipo da bruxa. Elas afirmavam que uma bruxa era uma mulher que fazia as suas próprias regras, que tirava o poder de si mesma e que lutava pelas suas irmãs (Adler, p.206-207). Este grupo via as mulehres como bruxas inatas e as bruxas como as primeiras revolucionárias e resistentes. Desta forma, feministas são capazes de reconciliar política com espiritualidade. Isto era de grande importância para muitas novas bruxas feministas. Um revista feminista chamada Quest fez uma edição especial dedicada à espiritualidade (Volume 1, #4, Primavera de 1975) para publicar um artigo de Judy Davis e Juanita Weaver que dizia:

A assim chamada divisão entre feminista cultural e feminismo político é um resultado debilitante na nossa opressão. Ela vem da noção patriarcal de que o espiritual e o intelectual operam em reinos separados. Negar o espiritual ao fazer política ou cultivar o espiritual às custas do bem-estar político ou econômico é continuar o jogo patriarcal. (Adler, p.185).


Feministas são capazes de praticar bruxaria (uma religião de poucos aspectos históricos de opressão patriarcal sobre as mulheres), bem como de continuar a sua própria vida política. Desta forma, ambas as coisas são capazes de alimentar um à outra: a bruxaria dá às mulheres força em suas lutas políticas e o ativismo político dá à bruxaria uma voz no foro público. Zsuzsanna Budapest, que começou a sua vida na América exilada da Hungria, achaou que a sua herança de bruxaria poderia ser unida à sua nova visão de trabalho político como feminista.


Zsuszanna é agora um membro da Arte feminista e autora de numerosos livros e artigos. Ela acredita que a religião é "a política suprema." "Religião está aonde você pode alcançar as pessoas em seus mistérios, nas partes dos seus seres que foram negligenciadas, mas que são tão importantes e dolorosas..." (Adler, p.188). Esta é uma afirmação inteligente. O que podem ser melhor do que mudar uma pessoa e o seu futuro senão através do nível subconsciente do simbolismo religioso?


No livro de Marion Zimmer Bradley, As Brumas de Avalon, os personagens principais, Viviane e Morgaine, combinam a sua religião com o seu envolvimento político. A Antiga Religião da terra dava importância às mulheres assim como aos homens e não subjugava um ao outro. Se o Grande Rei não jurava lealdade à Antiga Religião (e ao Sacerdote e à Sacerdotisa de Avalon), a religião iria morrer. Uma vez que a política do reinado teria um efeito direto sobre a sua religião e suas vidas, Morgaine e Viviane estavam determinadas a influenciar o Grande Rei. Desta forma, elas podiam assegurar a sobrevivência da religião e do velho modo de vida.


Muitas bruxas feministas vêem o matriarcado como uma parte importante do seu passado e do seu futuro. Muitos acadêmicos irão debater a existência de qualquer matriarcado passado. Para as bruxas feministas, a questão não é se houve realmente verdadeiros matriarcados, mas como a sociedade seria diferente se "princípios femininos" fossem valorizados. Embora o significado literal de "matriarcado" seja "governo feito pelas mães", a sua tradução literal tem muito do mesmo significado de "governo feito pelos pais", que é a tradução literal de "patriarcado". Na sociedade atual, quando uma feminista fala em patriarcado ela não quer dizer um governo benigno de homens. A sua conotação de patriarcado é a subjugação das mulheres e a repressão de tudo o que é feminino. As bruxas feministas freqüentemente vêem o conceito de matriarcado como o fortalecimento das mulheres e a valorização dos princípios femininos. Elas perguntam a si mesmas seria sentir estar no poder e como o poder pode ser usado diferentemente da forma como é usado no patriarcado.

As mulheres que estão dentro de grupos exclusivamente femininos estão começando a achar em primeira mão como o sistema feminino trabalha e como pode ser empregado como uma alternativa ao sistema masculino. As mulheres começando a formar comunidades igualitárias que operam muito diferentemente daquilo que Riane Eisler chama de sistemas androcráticos em seu livro "The Chalice and the Blade" (N.T.: O Cálice e a Espada). De fato, os postulados feitos por Eisler em seu livro sobre sociedades igualitárias e como elas funcionam são apoiados pelas observações de outras escritoras feministas sobre sistemas (ideais) de mulheres. E as bruxas feministas estão começando a utilizar estes sistemas em seus grupos e covens.


Bruxas feministas também utilizam o mais poderoso instrumenyo na sua busca pela reivindicação do espírito feminino: o arquétipo. O arquétipo é o aspecto mais potente de qualquer religião, seja o arquétipo de Eva condenando toda a humanidade ao exílio do Paraíso ou Diana criando os céus e levando Lúcifer para a Terra. Através de imagens poderosas da Deusa, as mulheres são capazes de fortalecer e mudar as suas próprias imagens. É claro, isto alcançado através do uso do mito. As bruxas feministas querem ir além das simples imagens da Deusa como uma mãe benevolente e que cuida dos seus filhos, como proposto pela Arte tradicional. As bruxas feministas abraçam todos os aspectos da Deusa. A Deusa não é vista apenas como a criadora do universo, mas também como destruidora, pois no fundo todos os atos de criação são atos de destruição. Ela vem de muitas culturas. Ela às vezes é representada como o sol (luz) "ativo", ao invés da lua (sombra) passiva. Ela é a guerreira que protege o Seu povo; Ela é Erishkegal bem como Inanna. Ela é Kali. Ela é Vênus. Ela é Freya. Todas as criaturas são Suas e a Terra é o Seu corpo. Suas energias estão ao nosso redor na forma de rios, raios e vento, criando e destruindo constantemente. Budapest claramente articula sobre a necessidade por uma deidade feminina em seu The Holy Book of Women's Mysteries (N.T.: O Livro Sagrado dos Mistérios Femininos):


... um deus masculino auto-criado que não tem mãe é um conceito totalmente insustentável. É, para dizer o mínimo, não sobrenatural, mas meramente não-natural. Nada na natureza se parece tal absurdo. Tudo, mesmo uma estrela que surge em algum lugar, toda criatura tem uma força-mãe. Obviamente, negar a maternidade é negar as mulheres. (p.3).


Logicamente, o raciocínio de Budapest funciona. Mas não é a lógica que leva as mulheres a acharem-se nas antigas mitologias. Os arquétipos da Deusa fortalecem as mulheres e as inspiram a se tornarem deusas (a trabalharem rumo ao seu potencial total).


Entretanto, há uma tênue linha antre arquétipo e estereótipo. Algumas bruxas feministas sentem que a Arte tradicional colocam ênfase demais sobre as mulheres como mães/criadoras. Elas perguntam a si mesmas até o­nde isto pode se aproximar das atitudes Kirche, Kürche, Kinder da Alemanha nazista se isto não for posto em cheque. Por isto, as bruxas feministas tentam tirar a ênfase di aspecto do nascimento. Elas freqüentemente reclamam os seus direitos reprodutivos na forma de criação de idéias, grupos, organizações etc. Em uma crítica à espiritualidade feminista, Sarah Hoagland diz que na pressa de reivindicar o espírito "feminino", muitas feministas têm entrado em uma noção debilitante e patriarcal. Ela diz:


A maternidade, para muitos, é o paradigma da criatividade e do poder das mulheres, quer a maternidade tome a forma de educar crianças (meninos, meninas ou homens) ou salvar o mundo e ser o esteio da civilização... (mas) a verdadeira maternidade não simplesmente uma questão de proteger e cuidar de toda a vida... a escolha de ser mãe podem envolver a escolha de destruir forças destrutivas... uma mãe, como outros, podem ter que matar para sobreviver (p.96). Se a imagem benevolente da mãe está ou não presente na comunidade feminista pagã, como Hoagland sugere, é difícil de dizer. Apesar disso, isto é uma crítica que toda a comunidade pagão deveria ter em mente.


Nesta nossa época, muitos indivíduos estão lidando com questões desta natureza. Na nossa sociedade em mutação, com seus avanços tecnológicos e separação da natureza, qual é o papel dos deuses? Quais devem ser os seus aspectos? Como nós podemos mudar os arquétipos? Uma autora que freqüentemente abordar estas questões é Starhawk. Starhawk é uma bruxa praticante cujo coven de mulheres e homens trabalha nos princípios da bruxaria feminista. Uma vez que homens feministas em seu coven tendem a escolher não se identificar com os papéis tradicionais para o homem, é mais fácil para as mulheres do coven verem a si mesmas em papéis não tradicionalmente aceitos para mulheres e vice-versa. Desta forma, como autora, Starhawk pode descrever em primeira mão as mudanças de papéis das mulheres e dos homens na Arte.

Mas muitos covens feministas não trabalham com homens. Nem eles se importam com a polaridade masculino/feminino ou, até mesmo, com a invocação e o culto do Deus. Esta é uma fonte de muita irritação para a Arte tradicional. Covens feministas geralmente trabalham de forma muito diferente dos covens tradicionais. Geralmente não há uma Alta Sacerdotisa do coven; as mulheres revezam o papel de liderar o coven em seus trabalhos e rituais. Quem quer que conheça melhor e esteja mais familiarizada com um trabalho mágico ou ritual lidera o grupo naquela ocasião. Os covens feministas criam os seus próprios exercícios e rituais. Eles não trabalham com um "Livro das Sombras" padrão ou livro de segredos mágicos. Eles freqüentemente emprestam ou inventam seus rituais, feitiços, cantos e exercícios. Há uma grande quantidade de espontaneidade em um coven feminista.


O separatismo de covens feministas, combinados com a rejeição de normas da arte e a imagem popular de feministas como pessoas que odeiam os homens, criou muito atrito entre as feministas e os tradicionais. Os anos 70 e 80 viram um aumento de cartas e artigos reacionários em jornais e periódicos neopagãos. Bruxas feministas foram taxadas de "sexistas" e "invejosas" (Adler, p.211). Muitos artigos pediam menos ênfase na Deusa e no Seu culto exclusivo. Alguns destes artigos foram escritos por mulheres. Hoje, muito desta controvérsia já morreu. Eu acredito, entretanto, que muitos pagãos (especialmente os mais jovens) ainda são afetados pela imagem que a mídia criou das feministas e, até certo ponto, a aceitam. O público em geral ainda compra a imagem que a mída criou das feministas. Em alguns pagãos, infelizmente, ainda são crédulos o suficiente para engolir isto.


Não importando se a Arte tradicional quer ou não ouvir e aprender, os covens feministas estão minando as noções patriarcais de gênero sexuais e seus papéis. Eles estão começando nas raízes do problema. As práticas separatistas permitem as mulheres a trabalharem para as mulheres e com outras mulheres. Eles se focam em assuntos femininos e cada uma tem uma parte igual no seu coven. Trabalhar em grupo que não é hierárquico dá às mulheres a chance de experimentar o poder-de-dentro, ao invés do poder-sobre. Elas ganham uma grande quantidade de poder ao focarem-se na Deusa e estudando os Seus novos arquétipos. Desta maneira, elas criam novas imagens para si mesmas e de si mesmas. Ao trabalhar sem a polaridade masculino/feminino elas têm invalidado décadas de ensinamentos de tão famosos hierofantes como Janet e Stewart Farrar e Gerald Gardner. Ela têm reconciliado espírito com matéria. Elas tem ouvido a "temerosa" intuição e nem sempre são "lógicas".

Estas mulheres têm abandonado os conceitos mais básicos sobre o que as mulheres "são". Elas não têm se tornado histéricas, profundamente infelizes ou inférteis. Elas têm rejeitado o modelo dominador da nossa sociedade. Ainda assim, elas não tem mergulhado no caos que supostamente reina supremo quando o sistema masculino não é usado.



http://www.imagick.org.br/apres/PratickasNoImagick/Xamanismo/feministas.html

Um comentário:

Mariana Dini disse...

Escreveu muito bem! Estudo sobre o assunto é de fato seu texto está em consonância com os fatos históricos. Além de ser sensível ao que motivou e motiva às mulheres na busca da espiritualidade feminista. Gostaria de saber a bibliografia. Fiquei curiosa pela leitura dos autores citados. Abraço!