imagem: Jia Lu, Illuminated

"EM CADA CORAÇÃO HÁ UMA JANELA PARA OUTROS CORAÇÕES.ELES NÃO ESTÃO SEPARADOS,COMO DOIS CORPOS;MAS,ASSIM COMO DUAS LÂMPADAS QUE NÃO ESTÃO JUNTAS,SUA LUZ SE UNE NUM SÓ FEIXE."

(Jalaluddin Rumi)

A MULHER DESPERTADA PARA SUA DEUSA INTERIOR,CAMINHA SERENAMENTE ENTRE A DOR E AS VERDADES DA ALMA,CONSCIENTE DA META ESTABELECIDA E DA PLENITUDE A SER ALCANÇADA.

BLOG COM MEUS POEMAS:

http://desombrasedeluzanna-paim.blogspot.com/



segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A DESTRUIDORA DE MITOS

A destruidora de mitos
Texto de Murilo Nunes de Azevedo
Nascida na Rússia na noite das feiticeiras, Blavatsky sempre foi acompanhada de perto pelo sobrenatural. Dotada de incríveis poderes sensoriais, fundou a Sociedade Teosófica, enfrentou os preconceitos e a ignorância, foi perseguida. A sabedoria oriental deve a ela a sua redescoberta e reavaliação. Blavatsky influenciou Gandhi e Nehru, previu a bomba atõmica, mostrou o poder oculto do som e forneceu os dados para a descoberta da biblioteca secreta de Tun Huang.
.Helena Petrovna Blavatsky é uma das mais extraordinárias personagens da nossa época. Mas que não é reconhecida, nem citada, pois quem faz a História são os pretensos sábios contra os quais ela tanto se bateu. A sua atuação no século 19 foi a de uma verdadeira guerrilheira do espírito.
.Nascida, segundo a velha tradição russa, na noite das feiticeiras, na noite de 12 de agosto, na cidade de Ekatiroslav, no ano de 1831, teve a acompanhá-la, desde o nascimento, a presença do sobrenatural. O seu batizado, realizado com a pompa tradicional da Igreja ortodoxa, resultou em graves queimaduras para o Pope celebrante. Começaram, então, a falar dela. Uma série de circunstâncias levou a isso. Entrou no mundo quando grassava uma terrível epidemia de cólera. A sua hipersensibilidade e o temperamento estranho atraíam sobre si a curiosidade popular. Como criança, adorava ficar só nos escuros subterrâneos do palácio de seu avô. Lá, iam encontrá-la muitas vezes, encondida numa masmorra, perdida em seus pensamentos. Irrequieta, sonhadora, adorava cavalgar, em pêlo, em fogosos cavalos pelas estepes.
Recebeu uma educação tradicional. Sabia tocar piano com mestria, a ponto de, anos depois, em Londres, ter realizado vários concertos.
. Chegando ao Egito, depois de ter abandonado o seu velho marido, o general Niceford Blavatsky, com quem viveu três meses virtualmente prisioneira, a sua vida é um torvelinho. Devemos lembrar que, na época, os transportes eram demorados e precários. A falta de informações um fato. Acompanhar os itinerários das viagens de Blavatsky é uma aventura que poucos poderão executar na nossa época.Vamos encontrá-la nas mais recônditas regiões. No Líbano, recebendo instruções dos druzos. Na India, nas montanhas da fronteira norte, tentando penetrar no Tibete. Nos Estados Unidos e Canadá, convivendo com os peles vermelhas, aprendendo as suas artes, ou com os feiticeiros vodus de Nova Orleans. Podemos deparar com ela sacolejando nas caravanas, cruzando o continente americano em busca do Pacífico. Na América Central e do Sul. Ou viajando de navio para o Japão em 1856. Ali entrou em contato com a mais esotérica das seitas: os iamabuchis, que moram nas montanhas próximas a Quioto. Em 1857 está no Kashimir, Ladak na fronteira do Tibete, na Birmânia e Java. Retorna à Europa. Viaja para o Cáucaso. Volta à Itália. Passa pelos Balcãs.Em 1867 é ferida na batalha de Mentana, no dia 2 de novembro, lutando ao lado de Garibaldi. Recupera-se em Florença. De 1868 a 1870 permanece no Tibete, num mosteiro da região de Chigtze, em companhia de seu mestre. Afunda numa explosão do navio Eumonia, no Mediterrâneo, entre as ilhas de Doxos e Hidra. Recebe assistência do governo grego que a remete, a pedido, para Alexandria. Depois é uma sucessão de locais: Cairo, Síria, Palestina, Rússia, Romênia, 1874, nos Estados Unidos em Vermont.
.Funda, em Nova York, a Sociedade Teosófica, em 1875. Escreve sem parar. Nasce Isis Sem Véu, em 1876. Em 1878 naturaliza-se norte-americana. Parte para a índia em companhia do seu grande colaborador coronel Henry Steel Olcott. Bombaim — 1879, cruza a índia. Ceilão —1880, onde se torna budista. De 1881 a 1885 vive na índia uma vida de superatividade em todos os campos. Em 1888, já muito doente, escreve como uma desesperada A Doutrina Secreta. Era a sua obra-prima. Uma síntese do pensamento humano. Uma teoria unificada do espírito humano. Como conseqüência, sofre todos os ataques. É considerada uma charlatã, uma vigarista. A Sociedade de Pesquisas Psíquicas, de Londres, envia um médico, o dr. Hogson, para a India, a fim de pesquisar os estranhos acontecimentos que ali se passavam. As conclusões apressadas e tendenciosas denunciam Blavatsky de forjar as cartas dos seus mestres, de utilizar gabinetes falsos para as suas materializações etc. O casal Coulomb, que se prestou a isso, tinha sido auxiliado por Blavatsky quando se encontrava passando necessidades no Cairo. Invejosos com a notoriedade de H. P. B. e instigados pelas missões religiosas e pelo Governo inglês, que via com maus olhos a crescente valorização da teosofia na Índia, armaram todo o esquema.
O fato é revelado com detalhes, entre outros, anos depois, pelo livro de Jacques Lantier, publicado em 1970, intitulado La Theosophie ou 1'Invasion de Ia Spiritualité Orientale. Helena Petrovna Blavatsky, verdadeira mártir do século 19, falece no dia 8 de maio de 1891, na cidade de Londres. As sementes da renovação do século 20 estavam lançadas.O mundo em que viveu o final do século 19, onde transcorre a vida de Blavatsky, caracteriza-se pelo aparecimento da ciência moderna. O materialismo era evidente nos mais diversos campos. Foi o período áureo da Inglaterra, da rainha Vitória, das missões religiosas cristãs para converter os infiéis. Do nascimento das estradas de ferro, e grandes fábricas inglesas, começando a poluir a paisagem. Do trabalho escravo das mulheres e crianças. Da iluminação a gás. Do cancã e da valsa. Os espartilhos, os grandes decotes, as sobrecasacas e as barbas fartas. A moral era a vitoriana. Escolhiam-se as palavras para que não hou­vesse o perigo de falsas identificações com o corpo humano. Foi a grande era da depravação. Dos grandes interesses comerciais.O deus todo-poderoso era o dinheiro. Em seu nome procurava-se modificar os hábitos e tradições dos povos submetidos ao colonialismo. Tudo aquilo que era a favor da manutenção de um estado de dependência, de conformismo, era apoiado. Tudo que podia fazer despertar a consciência dos valores culturais próprios dos países dominados, era perseguido. Blavatsky denuncia esse fato em vários trechos da sua obra. É a grande revolta contra a supressão do sublime direito de cada um ser ele mesmo. Ela se opunha, "com a forma mais forte possível, a tudo que se aproximasse da fé dogmática e do fanatismo". Logicamente teve contra si a resistência dos doutores da ciência. Em qualquer dos ramos da ciência exata, foi levada a sério.Escarnecer e rejeitar a priori — tal era a atitude que prevaleceu no século 19. H. P. B. dizia: "Somente neste, porque no século 20, os eruditos principiarão a reconhecer que a Doutrina Secreta não foi nem inventada nem exagerada, mas, pelo contrário, simplesmente delineada; e, por fim, que os seus ensinamentos são anteriores aos Vedas. Não vai nisso pretendermos o dom da profecia: é uma simples e despresumida afirmação, baseada no conhecimento de fatos. De cem em cem anos surge uma tentativa de mostrar ao mundo que o ocultismo não é uma vã superstição. Uma vez que se possa, de algum modo, entreabrir a porta, ela ir-se-á abrindo cada vez mais em séculos sucessivos".Graças ao estudo aprofundado dos textos das mais diferentes épocas e tradições, podemos encontrar aquilo que nos une por trás da aparência das formas. fanatismo dos cristãos dos pri­meiros séculos e da Idade Média, como tam­bém ocorreu depois com os sectários do islamismo, preferiu viver no obscurantismo e na ignorância".anotava em Doutrina Secreta: "É possível que as mentes da atual geração não estejam maduras para a recepção de verdades ocultas ... Chegou a hora de verificarmos se as paredes da moderna Jericó são tão inexpugnáveis que nenhum ocultista tocador de trompa possa fazê-las ruir".O ocultista não admite que nada, desde o grão de pó mais minúsculo até uma super-galáxia, seja inorgânico, sem vida. O átomo é a própria vida. Toda essa hierarquia de poderes — que vai desde o contido no todo até o mais relativo — está dirigida por consciências. Essas consciências são para o homem de ciência apenas leis. Há entretanto entre elas uma coordenação. A ciência oculta estabelece que da vida una, primordial, informe e incriada, procede o universo. Primeiro do caos primordial, profundo, frio, homogêneo, nasce a luz, o fogo. Dele, tudo procede em escalas decrescentes de materialização. Seguem-se, nessa descida do sutil ao denso, os estágios do ar, água, terra. Evidentemente, o éter, fogo, ar, água e terra não são os elementos a que normalmente nos referimos quando usamos essas palavras. Sakti é o poder latente no uno sem segundo. Contido no coração do um, Sakti é o desejo que leva à limitação, à multiplicação. É o poder feminino por excelência. Um aforismo cabalista diz: "uma pedra torna-se uma planta, um animal, um homem e um espírito. O espírito torna-se Deus". É o ciclo fechado que procede da centelha primordial, do filho pródigo que busca a casa do pai por caminhos distintos, sem ter, entretanto, nunca se afastado dela. Como dizia Hermes Trimegistos no Egito: "Nada na terra é real. Há somente aparências.
O homem é transitório e, portanto, não é real, pois é sujeito à vida e à morte. Só a realidade primordial o é. Aquilo que não tem cor nem forma, que não muda. A matéria é, portanto, uma sombra do espírito. Apesar de tudo, há o relativo, o contingente, o ilusório. O imutável se transforma no transitório pela força do poder (Sakti).
O fantástico e o maravilhoso estão constantemente presentes na obra que deve ser lida de espirito aberto.As noites e dias do universo.
.A cosmogênese revelada pela Doutrina Secreta é extremamente absorvente. O cosmo e todos os bilhões de corpos nele contidos, adquirem a característica de um organismo vivo. Pulsa, respira, nasce, cresce, envelhece como tudo mais. Os chamados dias e noites de Brahma da antiga tradição hindu, que nos chegam nas páginas dos Puranas, muito antes de qualquer aproximação científica dos acontecimentos, nos dão uma imagem extraordinariamente moderna do universo. As idades, a sucessão de nascimentos e mortes, são apresentadas com os detalhes de um tratamento matemático. E os números, que antes pareciam profundamente irreais, adquirem sob a luz forte da ciência atual uma veracidade incontestável. Foi por essa porta que entrei no mundo encantado do pensamento oriental. Foi ela que me abriu a visão de uma das mais extraordinárias aventuras com que pode sonhar o espírito humano. Segundo a mitologia da Índia, existem vários ciclos mundiais. Cada um deles é subdividido em quatro yugas que são as tradicionais idades da mitologia greco-romana.
. É a teoria do universo em expansão, em pleno vigor, muito antes da astronomia moderna e seus aparelhos sensíveis. Esse número é aceito pela ciência como sendo o da Idade do Sol.
. Esfinge. Oráculo. Magia. Todas essas insinuações eram reforçadas pelo seu corpanzil, as suas manias bruscas, o modo espalhafatoso de vestir e as manifestações paranormais que a acompanhavam sempre. E, principalmente, por seus olhos esbugalhados, profundos e que atraem quem os contempla. A atração do abismo, ou da Luz.
Revista Planeta (anos 70)

Nenhum comentário: